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Sala 16

Georgina de Albuquerque

(Taubaté, SP, Brasil, 1885 - Rio de Janeiro, RJ, 1962)
No cafezal, 1926
Compra Governo do Estado de São Paulo
Foto: Isabella Matheus

SALA 16
CORPO INDIVIDUAL,
CORPO COLETIVO

Transcrição

Você está na sala 16, que se chama Corpo Individual, Corpo Coletivo. Aqui te convido a olhar a forma como as pessoas são representadas e as maneiras de deixar evidentes seu lugar na sociedade, seu trabalho e as características atribuídas historicamente ao seu gênero. Perceba como os tamanhos das obras, a forma de representar e até o estilo das molduras varia de acordo com as pessoas retratadas. Vamos olhar juntos então para No cafezal, pintura de 1926, da artista Georgina de Albuquerque, nascida em 1885 no interior de São Paulo. O que mais chama a atenção neste quadro é a representação de mulheres como trabalhadoras do campo. Sabemos que a mão de obra feminina em cafezais é comum pelo menos desde o século 19, mas era raro que artistas produzissem imagens sobre isso. A pintora Georgina de Albuquerque dá ênfase a esse aspecto no quadro, lançando luz sobre um tipo de representação que não restringe a mulher ao ambiente doméstico ou como mãe. Mas enquanto trabalhadora. Os dois próximos quadros que veremos são de famílias, representadas de maneiras bastante diferentes uma da outra. O primeiro é A cena de família de Adolfo Augusto Pinto, pintura de 1891, do artista Almeida Júnior. Aqui vemos o engenheiro em posição central, como chefe de família, lendo uma carta. Ele repousa em uma cadeira de balanço, perto de símbolos de cultura e refinamento como piano e violoncelo. Tapetes e quadros também dão ao ambiente um aspecto rico e confortável. Ao redor do homem, reúne-se a família. A esposa cuida dos filhos, enquanto faz trabalhos manuais. A filha a observa, já os garotos miram o pai – um deles folheia um livro, como se o imitasse. A pintura como um todo deixa explícita a organização social e de gênero de uma família pertencente à elite do século 19. Mas quem foi Adolfo Augusto Pinto? Justamente um dos engenheiros ligados à história da ferrovia no estado. Espécie de diretor financeiro da Companhia de Estradas de Ferro de São Paulo, responsável por garantir o transporte sobre trilhos do principal produto agrícola produzido por aqui: o café. A maneira como Adolfo Pinto é representado por Almeida Junior traduz sua posição social e o modo de vida, intimamente ligados à economia cafeeira. Em frente a este quadro, há outra pintura, de outra família – agora de trabalhadores imigrantes. Vamos observar as diferenças. Emigrantes, obra de 1910 do italiano radicalizado no Brasil Antonio Rocco, mostra uma família atravessando um portão, com sua bagagem organizada em grandes trouxas, vinda provavelmente de um navio que atravessou o oceano. É a mesma história de milhares de famílias pobres que enfrentaram o desterro para tentar uma vida melhor no Brasil. Muito dessa mão de obra vinha trabalhar em cafezais, como vimos na pintura de Georgina de Albuquerque. As dimensões monumentais sugerem que a pintura foi produzida a fim de exaltar esses trabalhadores e a maneira como enfrentaram duras provações pelo caminho. Mas ela também joga luz sobre outro aspecto: a ausência de uma representação tão engrandecedora do trabalho – e dos sofrimento – de pessoas negras em prol do desenvolvimento econômico do país. Agora, quero chamar a sua atenção para outra representação do café, não mais como produto da economia, mas como uma marca indiscutivelmente urbana. Vamos ver juntos o Retrato de Vera Azevedo, pintado na década de 30, pelo modernista paulista Antonio Gomide. A pintura mostra uma mulher lendo, sentada numa mesa comum, acompanhada de um copo de café. Tudo nesse quadro é usado para construir uma imagem urbana e progressista. Começando pelas roupas e os cabelos curtos de Vera Azevedo. Também é importante notar a maneira como seus hábitos são representados, sua leitura é acompanhada de um maço de cigarros. Não há bule de porcelana. Em vez disso, uma panelinha industrializada. Também é industrial o copo de café que leva a bebida. O café aqui é parte da construção de Vera Azevedo como uma mulher moderna. O aspecto de modernidade é concebido de forma muito diferente no quadro A Leitura, pintado no século anterior, por Almeida Júnior, como parte de uma campanha nacional que pretendia mostrar o Brasil na Feira Universal de Chicago de 1893 como um país instruído. O café é então destaque na delegação brasileira e meio para o país se apresentar como uma economia pujante e moderna. Aqui, vemos uma mulher de cabelos longos, lendo em uma cadeira na varanda de onde se observa a pacata cidade de São Paulo no final do século 19 – mais especificamente, o bairro do Cambuci. Seja na postura descontraída da mulher, seja na paisagem e arquitetura, já é possível observar traços marcantes do desenvolvimento econômico e da prosperidade da capital. O café foi fator determinante de enriquecimento e progresso. Nosso percurso está chegando ao fim, mas antes quero te chamar para ver uma última pintura comigo. Vamos para a próxima sala observar juntos o retrato inusitado de uma das pessoas que mais exaltou o café na história do Brasil, o poeta Mário de Andrade. A pintura está na sala 17, que tem o título Violência e Resistência.