Transcrição

Você está na sala 11, que se chama Conhecimento e Dominação. Aqui estão reunidos exemplos da maneira como o Brasil foi visto, ao longo de toda a sua história, como fonte de recursos naturais e ambiente propício para a exploração. Os vários objetos dessa sala comentam, explicitam e tensionam o uso da ciência como modo de conhecer e trabalhar a terra para, a partir dela, gerar uma economia. Aqui vemos como artistas elaboram mapas e descrições da terra, seus habitantes e aquilo que produzem. Essas imagens, feitas com o rigor científico no século 19, têm a função de informar e divulgar o território como uma potência a ser explorada a partir de seus recursos. Essa visão é criticada por artistas que buscam denunciar a exploração predatória e encontrar modos justos, livres e sustentáveis de se relacionar com as pessoas, o trabalho e a terra. Arjan Martins é um artista contemporâneo brasileiro, nascido em 1960 e que usa da pintura para discutir a história colonial do Brasil e suas relações com a diáspora africana. Por meio de seu trabalho, podemos conhecer e lembrar da violência que fez uso de tudo como recurso. Inclusive das pessoas. Esta pintura que estamos vendo elabora uma espécie de mapa, que relaciona a história da monarquia no Brasil (simbolizada pela coroa), a escravidão e o tráfico de pessoas negras pelo Atlântico com a construção da paisagem, representada pela conformação das montanhas que remete à entrada da Bahia de Guanabara rumo ao porto do Rio de Janeiro. A pintura de Arjan Martins deixa explícito como esses assuntos estão intimamente ligados. E convoca em todos nós uma postura frente às pessoas, à paisagem e ao território. Com essas ideias na cabeça, convido vocês a me acompanharem para o Grande Salão da Pinacoteca – que aqui chamamos de sala 16 – intitulada como Corpo Individual, Corpo Coletivo. Será nossa penúltima sala nesta rota e onde pensaremos juntos sobre os lugares e as maneiras como as pessoas são representadas em nosso acervo; todas, claro, relacionadas com café.